Cores, iluminação, mobiliário, ergonomia e conforto térmico adequados são alguns dos principais aspectos trabalhados na concepção de um ambiente hospitalar. Em conjunto, eles têm impacto na qualidade de vida e auxiliam na recuperação dos pacientes. É com essa demanda que a arquiteta Raquel Radaelli, responsável pelo setor do Hospital de Clínicas Ijuí (HCI), trabalha diariamente: transformar um local habitualmente frio e impessoal em um espaço acolhedor e confortável.
“Atentar para a arquitetura hospitalar é poder fazer algo para alguém. Transformar a experiência do paciente transmitindo boas sensações”, avalia. Aos 89 anos, a instituição de saúde, que é referência em alta complexidade para a macrorregião, conta com edificações de diferentes épocas: década de 1950, 1970 e 1980. Essa característica, conta Raquel, torna o trabalho ainda mais desafiador, pois é necessário, frequentemente, readequar a infraestrutura física conforme as normativas sanitárias e as novas tecnologias de mercado.
“Comentamos que o hospital está em constante transformação. É um canteiro de obras que não para nunca. Um trabalho no qual não há rotina, que funciona 24 horas por dia e está sempre em movimento”, diz.
Recentemente, a profissional e sua equipe têm se debruçado em dois grandes projetos: a reforma da Internação da Clínica Médica e a implantação do Hospital do Câncer Infantil. O primeiro, conta a profissional, está inserido em uma construção da década de 1970, que ainda não havia passado por reforma. “Fomos descobrindo a unidade ao longo das intervenções da obra”, relembra.
A revitalização do espaço, dedicado à assistência de pacientes do Sistema Único de Saúde internados por longos períodos, foi viabilizada por meio da campanha Empresa Amiga, que arrecada recursos para reformar e humanizar o ambiente. Ao todo, são 14 quartos e 29 leitos. Desses, quatro já foram finalizados e outros dois serão entregues no mês de agosto. Para conclusão das melhorias, o HCI conta ainda com auxílio de doações de parceiros e empresários.
Inspiração em modelos de SP
Em junho, Raquel acompanhou uma visita da diretoria a instituições de saúde de São Paulo a fim de buscar inspiração para o projeto do Hospital do Câncer Infantil. Na viagem, a equipe realizou visitas técnicas ao Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC), ao Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (ITACI), e ao Instituto Maurício de Sousa. Em comum a todas as instituições de saúde – e que deve ser reproduzido em Ijuí – além da assistência integral às crianças, os espaços lúdicos, de recreação e dedicados às famílias, são prioridade.
De acordo com a arquiteta, o conceito infantil requer um olhar diferenciado para os acompanhantes e responsáveis pelas crianças, que muitas vezes se deslocam de cidades vizinhas para longos tratamentos e precisam de apoio para realizar suas tarefas de rotina diária.”Hoje, em um hospital adulto o foco é o paciente. Já no pediátrico é fundamental pensar nas famílias. Nossa ideia, aqui, é destinar um pavimento de integração com salas multiuso, brinquedoteca, sala pedagógica, cozinha, entre outras, indo muito além das condições clínicas dos pacientes e estreitando laços.
A humanização, projeta Raquel, terá a temática dos personagens da Turma da Mônica. Os quartos devem contar diferentes histórias em quadrinhos da trupe. “Queremos fazer a diferença na vida das crianças, criar vínculos entre o ambiente e os pacientes, incentivando a vencer todos os desafios que surgirem ao longo do caminho”, conclui.
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